Eu a escuto lendo, grávida, falsa, feliz. Como se o mundo fosse dela. Como se sua arrogância fosse lei. Fosse bem. E ela lê, sonhadora. E eu que a detesto, torço para que seus sonhos se realizem. Não sei por quê.
Eu vejo um ar artificial, uma vida inteira fácil de deduzir. Eu vejo um poço fundo, tão fundo, tão óbvio, eu não quero viver assim. Ela só lê porque precisa de alguém, qualquer alguém que a escute. E às vezes eu que tenho vontade de apertar o seu pescoço com mãos fortes, só queria que ela fosse embora viver em paz, longe de mim.
A vida acontece e se constrói ao meu redor, será que fiquei pra trás? Será que não querer minha vida no papel, desenhada, calculada, planejada é ficar pra trás? Eu nunca quis o óbvio, o caminho traçado, eu quero mesmo é me jogar de uma ponte e contar com o vento, com o fundo, não sei. Me perdoe se estou sóbria, se canso você. Você ainda está acordado? Que a consciência se exploda! Que essa chuva que vem aí, pesada, exausta, leve, lave, lave tudo, lave essas máscaras, essas caras falsas, essas sombras falsas. Leve prum esgoto. E que Deus as tenha.
O sentimento de que se precisa ir embora. Você sabe como é, você também não tem para onde ir, não é? E a gente vai ficando, ficando, ficando, e a única saída que encontra é alguma substância qualquer, dependendo do nosso acesso e dos nossos contatos. Tic-tac, e minha vida vai embora, no esgoto... Essa vida tão rara que não teve sorte. Eu vivo tentando mudar. E quando não consigo, eu imagino que mudei. Essas substâncias, elas são lei.
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